ISABELGARCIA

KISS-IN-THE-RING . 2007

O título desta exposição Kiss-In-The-Ring cita o de um ritual celta, propiciatório da fecundidade da terra, que se processa através de uma dança de roda, dança circular que o espaço da galeria também promove e provoca quando nos obriga a rodar em torno de um "centro" cego. Cegos também são alguns dos objectos nesta exposição, sobretudo quando vistos de fora, caixas que vão aparecer como sólidos negros, tal como as antigas "estruturas primárias", antes de nos revelarem o seu interior.

 

Galeria Cubic

Fevereiro de 2007

Instalação 

KISS IN THE RING

Quadros

FROTTAGES

Quadros

DESENHOS

Somar - Juntar - Multiplicar

JOSÉ LUÍS PROFÍRIO

Instalação Kiss Box

Instalação Kiss Box: Madeira, espelhos e acrílico sobre bola de esferovite | 35x35x35 cm por módulo
Instalação Poço: Madeira, espelhos e bola de esferovite | 120x120x120 cm

Neste céu voa um amor que não é meu
Frottage sobre acetato | 105x60 cm
Rios de Beijos
Frottage sobre acetato | 105x60 cm
Meu Coração no mar nada
Frottage sobre acetato | 105x60 cm
Pormenor - Rios de Beijos
Frottage sobre acetato | 105x60 cm
Pormenor - Quem nos beijou naufragou?
Frottage sobre acetato | 105x60 cm
Pormenor - Chuva de Beijos
Frottage sobre acetato | 105x60 cm
Espelho: Guache e frottage sobre papel | 130x110 cm
Espelho: Guache e frottage sobre papel | 130x110 
Kisses (Ouro): Guache e grafite sobre papel | 96x70 cm
Kisses (Prata): Guache e grafite sobre papel | 96x70 cm
Kisses (Ouro): Guache e grafite sobre papel | 96x70 cm
Kisses (Ouro): Guache e grafite sobre papel | 96x70 cm 
Kisses (Ouro): Guache e grafite sobre papel | 96x70 cm
Pormenor Kisses 
Pormenor Kisses 

Somar- Juntar - Multiplicar

O trabalho do apresentador ou do prefaciador de uma exposição, para além da cumplicidade que lhe está implícita, traz consigo uma dificuldade particular que é a de apenas poder imaginar o que ainda não pode ser visto, muito embora conheça obrigatoriamente as obras a instalar. Este texto é, pois, escrito entre duas vistas, as dos trabalhos colocados nas paredes da casa da artista ou ainda em construção na sua oficina e uma impossível visita a uma exposição que ainda não existe, entrevistas portanto.

O título desta exposição Kiss-In-The-Ring cita o de um ritual celta, propiciatório da fecundidade da terra, que se processa através de uma dança de roda, dança circular que o espaço da galeria também promove e provoca quando nos obriga a rodar em torno de um "centro" cego. Cegos também são alguns dos objectos nesta exposição, sobretudo quando vistos de fora, caixas que vão aparecer como sólidos negros, tal como as antigas "estruturas primárias", antes de nos revelarem o seu interior. Toda a exposição se joga no contraponto entre as caixas e três séries de desenhos em que o processo da frottage é fundamental.

O percurso pensado, tal como está planeado, é muito simples:

1.- Uma parede com Pratas e Ouros, (frottage e guache sobre papel) onde se jogam simetrias entre conjuntos de círculos, ou esferas, (ou frutos/sementes), negras e claras distribuídos numa rede, ou numa grelha, de aparência aleatória.

2.- Um cubo negro, de seu nome Poço, pois está interiormente forrado a espelho multiplicando ao infinito a forma perfeita de uma esfera branca, transformando em vertigem a simetria inicial.

3.- Ao fundo, imagino-as como se fossem pilastras cinzentas, nova série de frottages, desta vez sobre acetato, são outros exercícios de impressão, desdobramento e simetria, executadas a partir de uma colheita de palavras efectuada por Isabel Garcia nos bancos de pedra que, junto á Torre de Belém, transcrevem fragmentos de poemas portugueses. Aqui, porém, só as palavras são pilhadas, misturando-se de modo a procurarem outros sentidos numa espécie de pesquisa amorosa. O acetato colado à parede dá ao conjunto, afinal rigorosamente construído, um sentido de estudo, de improvisação e, sobretudo, de processo momentaneamente interrompido.

4.- Novas caixas, adossadas à parede espelhada, revelam o seu interior, espelhado também, noutro jogo de multiplicação, desta vez de bolas de cor forte como se de frutos se tratasse.

5.- Finalmente os dois grandes desenhos finais, os Espelhos, também utilizando o guache e a frottage, introduzem, pela sua escala, uma outra dimensão de imagem onde os círculos se tornam evocação de mundos em movimento.

Captar uma textura, uma palavra, ou uma imagem, imprimi-la, desdobrá-la quase mecanicamente, depois, graças ao espelho, acelerar o processo, a multiplicação, tudo isto envolto numa teia de títulos onde a referência amorosa se torna quase sempre evidente menos num caso, o da peça mais simples e reveladora da exposição tão singelamente (?) chamada Poço. Esta peça não deixou de me lembrar, tanto pela semelhança formal quanto pelo contraste de intenção, os "quartos do amor infinito" que a japonesa Yayoi Kusama inventou nos anos sessenta, só que ao fervilhar sexuado da japonesa responde, de um modo mais completo, este poço que é, que não pode deixar de ser, um poço do desejo, ou dos desejos, dos desejos todos, todos, reunidos na forma perfeita e infinita da esfera, infinitamente multiplicada.


José Luís Porfírio